Do lado certo da história

Fernando Grostein Andrade

Vivemos uma época estranha, em que, de repente, os fatos não importam mais. Bobagens como dizer que o Nazismo era uma movimento de esquerda circulam na internet com supostas comprovações patéticas, como se a palavra social na sigla do partido alemão bastasse para desmentir fatos históricos. Por esta lógica, podemos afirmar que as socialites são socialistas? Ou ainda, grupos que pretendem combater a corrupção e votam em um candidato que já fez, em vídeo, apologia a sonegação e esteve nas listas da JBS (ainda por cima votou contra o Plano Real, a favor de um estado pesado e discursou a favor de grupos de extermínio).

O momento é desafiador porque o segundo turno colocou o Brasil para escolher entre candidaturas muito distintas (e que não podem ser igualadas), uma que representa a ascensão do autoritarismo, do ódio, da intolerância e da violência e outra, representante das idéias progressistas e justiça social, mas com um partido que coleciona uma série de erros que prefere negá-los e mostrar genuína superação.
Independente de boas intenções, a aventura das olimpíadas e da copa do mundo (em que um estádio bilionário até virou estacionamento), aliada a uma politica fiscal expansionista irresponsável com dezenas de escândalos bilionários de corrupção custou caro ao Brasil: um grave crise econômica que destruiu vidas e construiu um potente terreno de insanidade.

Os constantes acenos do PT à ditadura Venezuelana, campanhas eleitorais irresponsavelmente caras e imundas em corrupção (assim como vários outros partidos) e até campanhas difamatórias injustas visando destruir reputações para ganhar o poder, macularam a imagem do PT. Nunca é demais lembrar, PT recebeu um governo nos trilhos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, chamou um tucano na época, Henrique Meirelles, para tocar a economia e expressou sua ingratidão repetindo a expressão “herança maldita” ao infinito, quando os fatos desmentem o óbvio. Pouco ao pouco, o PT abandonou a responsabilidade nas contas públicas e se lançou num descontrole de gastos populista, visando a perpetuação do poder custe o que custar. E quem ousasse criticar, recebia a ira de blogs e veículos alinhados ao governo, muitas vezes com mentiras. O nós contra eles foi usado a exaustão como mecanismo de conquista de poder.

Criticar erros é dever democrático, não é ataque. E em tempos de simplificação de tudo, prefiro enxergar mais de uma verdade.

A realidade é complexa: Lula quando presidente representou o avanço da justiça social, aumentando o acesso dos negros e pobres na universidade, combateu a fome, venceu o medo. Fernando Haddad quando prefeito, deixou as contas em ordem e de forma responsável, mudou a lógica de transporte urbano, com corredores para que a periferia viesse trabalhar em jornadas menos infinitas e transformou a bicicleta não só numa nova alternativa na megalópole São Paulo, como também num lucrativo novo mercado.

O momento que vivemos é histórico, contudo, é quase binário, de um lado representante do autoritarismo e da intolerância que disse que relações de negros e brancos são promiscuidade, que diz que os africanos vieram ao Brasil por livre e espontânea vontade, com aliados suspeitos de envolvimento em milícias, que tira dos profissionais de segurança o monopólio das armas, ou ainda, que em nome do cidadão de bem e do combate a corrupção, foge de respostas de acusações fartas de falta de liturgia para o cargo postulante: de roubo de cofre a funcionária fantasma, uso ilegítimo de auxilio moradia, apologia ao estupro e aliados patéticos: do aero trem a um general amalucado que acha que famílias criadas por mulheres são fabricas de desajustados, ou que, seu netinho é mais bonitinho porque representa o branqueamento da raça (segundo ele foi tudo uma brincadeira, olha só).

Nunca poupei criticas e nem elogios a diversos políticos, sempre apoiando movimentos alinhados com causas e nunca participando da disputa de poder. Minhas causas são o acesso à educação de qualidade para todos, desenvolvimento econômico, fomento ao empreendedorismo, justiça social e direitos humanos, o que significa regulamentação das drogas como forma de diminuir o dano que a droga causa na sociedade e pode causar nas pessoas, defesa incondicional dos direitos das mulheres, dos LGBTQs, dos negros, dos indígenas, do meio ambiente.

A hora não é fácil e exige compromisso histórico. Minha posição é o compromisso com a democracia e as causas dos direitos humanos, que ganharam magnitude com a declaração universal dos direitos humanos, escrita em co autoria por Hessel, sobrevivente da barbárie nazista.

Diante disso, deixo claro que mesmo com fartas criticas ao PT, meu voto é CONTRA Bolsonaro, CONTRA a barbárie, CONTRA o autoritarismo cujos efeitos multiplicadores vão contaminar nossa sociedade que já esta na UTI da violência, CONTRA a devastação da floresta amazônica e a favor de um chance a Fernando Haddad e, dentro de uma frente ampla pela democracia e crítica, uma segunda chance ao PT. Sou contra ataques ao estado laico e contra o envolvimento de igrejas milionárias na eleição (mas de maneira nenhuma contra as igrejas e a favor da liberdade religiosa).

Contudo, deixo claro o recado ao PT para que deixe de lado os fatos alternativos e tenha coragem e humildade de assumir sua coleção de erros, para com isso, quem sabe, liderar nosso país num pacto democrático, responsável economicamente e, acima de tudo, se reinventar e aprimorar.