Falso profeta
O que acontece quando um tiranossauro se veste de liberal.
O ministro da economia, Paulo Guedes, já deve ter percebido que não existe bom negócio com quem não é bom. Como banqueiro de sucesso, sabe que papel aceita tudo e a realidade não autoriza desaforos. O super-ministro infelizmente foi publicamente desautorizado, quando seu poste resolveu brincar de repetir o erro de interferir na política de preços dos combustíveis. Foi um erro básico — basta estudar história, o que não parece ser o forte do poste. É isso que acontece quando um tiranossauro se transveste de liberal de ocasião.
A falta de estudos do poste que virou presidente, no vácuo de desonestos esquemas de fake news, será sempre constrangedora. Como se associar com um falsificador da história, que foi desmentido pela fundação israelense responsável pela preservação da memória dos judeus mortos no holocausto, com a óbvia confirmação de que nazismo é de ultradireita (e não de esquerda)? O desconhecimento é tão flagrante, que até o slogan do governo do poste foi emprestado de Hitler (quem estuda sabe). Como judeu, digo: o poste envergonha nosso país. Lembremos que na Alemanha dos anos 1930 um movimento anti-intelectual que parecia inofensivo foi usado contra a ciência para discutir fatos (e fatos não são discutíveis).
Como bom entendedor de economia, o ministro deve saber que tecnologia e educação são motores da inovação, evidente combustível do crescimento econômico de Israel, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. Como justificar um quadro tão insignificante na gestão do MEC? Com certeza, deve saltar aos olhos dos seus analistas o montante de dinheiro escandaloso que não é tributado de algumas igrejas caça-níquel. Daqui a pouco, a melhor alternativa para ser empresário no Brasil será montar uma igreja e não uma empresa. Educação? Para quê?
Ministro, a sua situação é dificílima, eu sei. A reforma da previdência parece azedar porque, em vez do dialogo democrático, o seu poste preferiu o autoritarismo e o diversionismo. Quebrou o decoro ao postar vídeos eróticos e ainda pediu ajuda da população para entender um fetiche como o Golden Shower – não seria mais fácil pesquisar no Google? De fato, urinar na cabeça de alguém é inusitado, mas não mais inusitado do que adubar o Brasil com infinitas barbeiragens e mentiras.
Caro ministro: não conheço o senhor, mas nutro profundo respeito e acredito realmente em suas intenções de salvar nosso pais de uma sucessão de trapalhadas econômicas. Torço pelo seu sucesso, porque ele é nosso e sou patriota. É preciso, porém, perceber o que parece muito claro para quem está fora da ilha do governo. Quando o Museu de História Natural de Nova York rejeita o fóssil de um tiranossauro, que age em cima de mentiras constantes, tudo envolto em irrealidade, a realidade se impõe: as ideias não correspondem aos fatos e a piscina fica cheia, de muitos, mas muitos ratos. Talvez sua maior contribuição neste momento, ministro, seja acabar com o que senhor começou: endossar um poste sem qualificação, decoro ou até trajes para liderar um país. Errar é humano, insistir no erro é irracional.