Fernando Grostein Andrade https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br Mon, 27 Jan 2020 18:07:17 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Nostalgia da Senzala https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/nostalgia-da-senzala/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2020/01/27/nostalgia-da-senzala/#respond Mon, 27 Jan 2020 08:35:51 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg true https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=351 Porque me dá indignação quando um grupo de ex-alunos do Santa Cruz decide “matar a saudade do senzala”.

Meus avós escaparam do Holocausto, fugindo da Polônia e Rússia, rumo a América latina. A parte da família que ficou na Europa foi assassinada por nazistas.  Minha religiosidade e espiritualidade ainda são páginas a serem escritas na minha vida, mas não tenho dúvidas, sou judeu, com muito orgulho. Holocausto, foi durante séculos, a palavra usada para designar grandes massacres.  Desde 1960, se tornou um termo que remete diretamente ao genocídio dos judeus, quando mais seis de milhões de pessoas foram assassinadas pelos nazistas. Mas este não foi o único holocausto: mais de cinco milhões de negros foram forçados a uma diáspora durante o período da escravidão no Brasil, segundo o historiador Laurentino Gomes. Também é importante lembrar dos povos indígenas que foram massacradas pelos colonizadores europeus – e continuam sofrendo até hoje.

Não consigo entender, portanto, quando leio nos grupos do WhatsApp que um grupo de alunos da escola onde estudei decide matar a saudades do “Bar Senzala” que está fechando uma das suas unidades. Explico para quem não sabe o contexto. O Santa Cruz é um grande colégio paulista, por lá estudaram de Chico Buarque a grandes empresários do setor financeiro. A escola sempre cultivou um enorme clima de tolerância e diversidade. Algumas quadras da escola existe um bar e um restaurante chamados “Senzala”.  Exatamente a palavra que significa cativeiro e é usada no Brasil por pessoas não negras sem pudor. É uma palavra sem peso algum para muitos de nós brancos . É claro, não é dor e nem a história dos brancos.  Não existe uma discussão sobre o que palavras como senzala, pelourinho, criado-mudo significam para os milhares de descendentes de escravizados. Não há respeito pela dor dos negros no Brasil.

Muitas pessoas não percebem a gravidade disso e escrevo este texto para conscientizar. Não é honesto e nem “kosher” normalizar atrocidades e tentar tirar significado do abominável.

Muitos vão falar, horas, mas eles não são racistas, estão apenas com saudades do bar onde passaram a adolescência. E é por isso que não surpreende que estudantes de uma das melhores escolas do país, sequer pensem no peso de uma palavra que remete a dor de um sistema tão cruel e doloroso. Observar pessoas falando sobre como não são racistas e que “apenas tem saudades de um lugar com um nome qualquer onde passaram a adolescência” é lamentável.

Desmund Tutu, o bispo africano vencedor do Nobel da paz pelo combate ao Apartheaid tem uma frase célebre “se você fica neutro em situações de injustiça, você escolher o lado do opressor”.  A alta sociedade paulista faz vista grossa ao período de mais de 350 anos que marca o Brasil como o mais longevo sistema de escravidão da história recente da humanidade. Aliás, o Brasil é o último país a abolir esse sistema nefasto.

Morando há quase um ano nos EUA, percebo o quão maluca é a nossa relação brasileira com os empregados domésticos. Aqui nos EUA, quase ninguém tem empregada. Pessoas de classe média baixa e alta lavam sua louça, lavam sua roupa, cozinham, trabalham e se divertem sem problemas. Aqui uma empregada custa 500 reais por dia para trabalhar por quatro horas e não faz coisas que seriam normais no brasil, como lavar janelas: “I don’t do windows (eu não lavo janelas)”.  Recentemente acompanhamos algumas reportagens sobre como algumas construtoras estão re-introduzindo os quartos de empregada em Portugal para atender os clientes brasileiros. Parece Downton Abbey.  O Brasil ainda continua com costumes arcaicos. E agora estamos importando a moda de volta para o continente europeu. O tal quarto de empregada, geralmente um cubículo desumano, é uma forma de manter um regime de trabalho de quase 24 horas – algo que é como uma escravidão moderna.

Não sou hipócrita: sempre tive uma empregada doméstica e ainda sempre desenvolvi uma relação altamente afetiva de gratidão. Por mais que eu entenda a importância e reconheça que essas pessoas foram fundamentais para fazer meu trabalho de forma mais eficiente, existem questões.  Muitos dos brancos se negam a reconhecer o que é obvio ao olhar de qualquer estrangeiro que pisa neste país.  Somos divididos por classe e essa categorização é um resquício direto do período em que dividíamos pessoas por raça. Ou seja, os negros estão entre os mais pobres e sofrem mais violência neste sistema desigual. Basta dar uma volta na penitenciária. Faz parte da nossa evolução reconhecer privilégios. Não estou aqui falando mal da classe média brasileira, da qual faço parte. Estou criticando os diversos níveis de complacência com as tragédias que os negros e índios sofreram.

Hoje é dia mundial do Holocausto. Infelizmente assistimos o anti-semitismo crescer no mundo, assim como o preconceito contra muçulmanos e até mesmo povos indígenas (recentemente foram chamados de menos civilizados pelo ocupante do mais alto cargo de nossa república).

Por outro lado, nós, judeus, nos estabelecemos com elite de quase todos os países onde temos uma população expressiva. As pessoas têm respeito pela nossa história, poucos ousam brincar com a nossa dor. No final do sistema de opressão nazista que matou milhares dos nossos, recebemos bilhões em indenização, a ONU reconheceu o direito dos judeus de serem um povo livre e ajudou a criar um país democrático que hoje é uma ilha de riqueza no meio de uma região conturbada. Os judeus hoje tem um país, uma potência atômica com um dos exércitos mais poderosos do mundo – incluindo o cibernético. Já os negros, lutam pela ascensão social em um continente que foi desenhado para que eles trabalhassem forçadamente. No final do holocausto deles, não houve pedido de desculpas, não houve reparação e pelo que vimos no bar senzala, não houve nem empatia. Foram anos e anos de discriminação e contínua exclusão do sistema. É gritante a diferença entre o tratamento das duas histórias de dois povos que foram massacrados.

Os  judeus americanos apoiaram associações negras no final do século XIX como a NAACP – maior organização negra do país. O documentário “Blue Note Records: Beyond the Notes” conta como os judeus Alfred Lion e Francis Wolff foram importantes aliados na popularização do Jazz e na luta contra a estigmatização do gênero musical visto até então como música degenerada pelo regime nazista. Judeus estavam na Marcha de Washington junto a Martin Luther King nos anos 60. E Albert Einstein também se manifestou contra o racismo nos Estados Unidos que o acolheu como refugiado: “Há uma separação entre pessoas de cor (negras) e pessoas brancas nos Estados Unidos. Essa separação não é uma doença de pessoas de cor (negras). É uma doença das pessoas brancas. Não pretendo ficar calado sobre isso”.

Nós brancos temos muito a aprender com os negros. Quando terminei este texto, liguei para meu amigo Ad Junior, um empresário e ativista do movimento negro e falei:  você poderia me dar uma consultoria? Não quero escrever bobagem. Ad, rescreveu este texto. Acrescentou. Me ensinou. Me fez crescer. Acho que isso deve valer para os brancos. Não devemos ter compromisso com o erro, devemos crescer.

Ser judeu para mim é ser contra qualquer holocausto, contra qualquer grupo. Portanto, como judeu, digo. Fechem o Senzala. Tomem vergonha na cara. Abram os olhos. Infelizmente errar (e errar feio) faz parte da natureza humana. Eu sou uma pessoa construída em cima de erros. Mas nunca tive vergonha de me desculpar e seguir em frente. Este texto não é para agredir, este texto é um pedido: abram os olhos e cresçam. E fica a pergunta: Se o vídeo abjeto de Roberto Alvim que é claramente inspirado na ideologia dos algozes do povo judeu fosse feito para agredir e falar mal dos negros ele teria ele sido demitido? Eu tenho certeza que não. Fechem o Senzala, destruam a senzala, ou, ao menos, troquem o nome do bar.

 

 

 

 

 

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Uma revolução moral https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/11/06/uma-revolucao-moral/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/11/06/uma-revolucao-moral/#respond Wed, 06 Nov 2019 20:49:11 +0000 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/files/2019/11/privacidade-320x213.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=340 O The New York Times publicou nesta semana um artigo assustador. Além do cadastro de crédito americano por pontuação (modelo em estudo para ser implementado no Brasil), surge um novo serviço de “proteção ao crédito” (leia-se invasão de privacidade), e empresas como a Sift vendem relatórios secretos sobre o perfil de cada consumidor.

No caso do repórter do jornal, o relatório tinha mais de 400 páginas e incluía até as mensagens dele com o Airbnb. Ou seja, notas secretas estão sendo atribuídas aos consumidores e são usadas para determinar se loja aceita um produto de volta e até a posição na fila de atendimento na hora de ligar num call center.

A Sift não é a única. Já existe no mercado americano a Zeta Global, Retail Equation, Riskified e Kustomer.

Este é mais um indicativo de a privacidade está ruindo pouco a pouco. Já não é novidade para ninguém quando falamos algo no WhatsApp, Facebook ou similar e surge um anúncio publicitário na sequência direcionado para tal. Estou morando nos EUA e na minha rua existe um serviço de segurança muito preciso. Cada carro que passa tem sua placa lida por uma câmera de segurança, que puxa a ficha criminal do dono do veículo e manda para uma rede social dos moradores. Parece legal se estamos falando de um criminoso perigoso, mas isso marginaliza ainda mais aqueles criminosos que cumpriram pena e querem se reintegrar à sociedade, ou aqueles que cometeram crimes menores. Imagina alguém que bebeu, dirigiu, acertou um poste e fica marcado para o resto da vida – sem diminuir de forma nenhuma o terrível crime de beber e dirigir.

Vou lançar aqui uma teoria, sem nenhuma possibilidade de provar, mas apenas para dividir a ideia com meus queridos leitores. Com a escalada rumo ao fim da privacidade, do reconhecimento facial e o que ainda mais está por vir, o mundo vai viver uma nova revolução moral.

Não são raros os casos de conversadores que são pegos praticando aquilo que condenam. Nas minhas andanças de cineasta, conheci um deputado republicano gay que passou a vida perseguindo os gays até ser pego em flagra. Na sequência se assumiu, respirou e mudou de lado. Se formos levantar líderes religiosos, a lista é imensa –de padres pedófilos a pastores bandidos que envergonham os praticantes da fé. A verdade é que ninguém está isento –lideres progressistas, praticantes da caridade, políticos, professores. Isso porque somos seres humanos, com id, ego, superego complexos, que erram, acertam, se desculpam, têm vergonha, curtem o seu lado b na privacidade e por aí vai.

Se antigamente era possível viver duas personas, hoje não é mais. Isso significa que os moralistas, dos praticantes aos pregadores, vão ter que lidar com a complexidade da natureza humana. Pais vão ter que abrir o jogo com os filhos sobre o uso de drogas na adolescência. Políticos vão ter que deixar claro que não são modelos sacros, mas são seres humanos, cheios de possíveis erros que percorrem sua vida tributária até a vida intima –quem sabe sua beleza real esteja aí e não no botox do horário político. No novo mundo que surge, todo mundo sabe de tudo.

Não sei o que vai dar, mas, com todos nós nus, teremos que lidar com nossa complexidade e quem sabe, floresça a aceitação nos cacos do moralismo.

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Vamos falar sobre impeachment? https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/vamos-falar-sobre-impeachment/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/09/02/vamos-falar-sobre-impeachment/#respond Mon, 02 Sep 2019 19:05:04 +0000 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/files/2019/09/capa-folha-320x213.png https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=336 Está na hora de se quebrar um tabu. Por que não abrir a discussão sobre a legitimidade do impeachment de Jair Bolsonaro? É comum que até os adversários digam que a eleição foi legitima. Claro que não foi.
A utilização de fake news para influenciar as eleições de forma criminosa foi fartamente documentado, seja pelas matérias desta Folha, ou nos nossos grupos de WhatsApp. A mais patética delas falava que o candidato Fernando Haddad iria distribuir mamadeira em forma de pênis. Alguns vão argumentar que o PT também usou do expediente. O que isso muda? Nada.
A conexão entre os pimpolhos sanguinários do Presidente e do americano Steve Bannon – figura central na utilização de fake news nas eleições americanas – está ai registrada na Internet para mostrar o que muita gente prefere não enxergar para não atrapalhar os negócios.
Outro fato que escancara a falta de legitimidade é o fato do Ministro Moro, enquanto juiz, ter afastado o candidato favorito nas pesquisas, Lula, num julgamento fraudulento, em que foi fartamente comprovado que o juiz agiu em conluio com a acusação. A última prova veio de um procuradora que pediu desculpas pelas suas palavras deploráveis e que nada tem a ver com justiça – reconhecendo as mensagens que o governo diz que são falsas, ao mesmo tempo que condenam a invasão de celular. Dizer isso não significa inocentar o Presidente Lula e o PT dos seus possíveis erros. Quer dizer apenas, (1) que foi marmelada (2) que Lula, como qualquer outro brasileiro, tem direito a um julgamento justo e não a um linchamento oportunista. E antes que algum leitor me chame de “Petralha”, deixo clara minha posição: o aceleramento das despesas do governo Petista para se manter no poder, também foi anti-democrático.
E se tudo isso não foi capaz de te convencer, vamos falar da facada. Se ela não tivesse acontecido ou tivesse acontecido meses para lá ou para cá, o resultado da eleição seria o mesmo? Claro que não. E isso vale para o Haddad e Alckmin, caso eles tivessem tomado a facada. E que fique claro, esta facada foi uma covardia sem precedentes e desde o primeiro segundo torci pela vida do Presidente Bolsonaro, mesmo discordando de todas as suas posições, justamente porque acredito nos direitos humanos – para todos.
A força que esta por trás disso tudo, foi a avassaladora vontade legitima mas de forma ilegítima dos empresários e classe média em lutar pela volta de um ambiente econômico racional e o fim do discurso persecutório que o PT fomentou contra essas classes ao longo de anos, sem perceber que provaria um dia do próprio veneno. O banqueiro oportunista Paulo Guedes sentiu a oportunidade do desespero inconsequente e passou o pires por ai em busca de uma marionete. Achou.

É preciso clareza para enxergar o que está acontecendo: um golpe de Estado de cunho religioso e fundamentalista, disfarçado de discurso macartista e moralista. Esta na hora da sociedade discutir de forma aberta e clara, a possibilidade de impeachment de Jair Bolsonaro.

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Amazônia: da fumaça do Mc Lanche Feliz ao João Amôedo https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/amazonia-da-fumaca-do-mc-lanche-feliz-ao-joao-amoedo/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/08/22/amazonia-da-fumaca-do-mc-lanche-feliz-ao-joao-amoedo/#respond Thu, 22 Aug 2019 18:12:28 +0000 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/files/2019/08/Joao-Amoedo-320x213.png https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=322 Sim você leu certo, a fumacinha do hambúrguer do Mc Donalds tem o DNA da destruição da Amazônia, ou melhor tinha. Em Abril de 2006 o Greenpeace produziu um relatório denunciando como a gigante do fast food estava se beneficiando do desmatamento da Amazônia comprando insumos baratos às custas da floresta. Mas veja só, em Abril de 2015, o McDonalds assumiu um compromisso de não contribuir mais com isso e rever suas práticas. Tempo depois, assumiu o compromisso de preservação do Cerrado brasileiro assinando o “Cerrado Manifesto”, junto com empresas como Wall Mart – tudo noticiado em veículos como New York Times. Lição aprendida pela gigante, mas que não foi aprendida pelo João Amoêdo.

Vamos falar um pouco sobre João e o seu partido “novo”. Quando chegou na praça, o Partido Novo virou logo o “darling” da classe média paulistana – da qual faço parte, alias. Prometia trazer as melhores práticas de gestão, com uma arrogância típica do setor financeiro que tem certeza que nada é mais importante do que finanças e dinheiro. Confesso, me encantei. Naquele momento, com as finanças públicas destruídas por gastos irresponsáveis do governo Dilma, da Copa à Olimpíada só para mencionar alguns exemplos, considerei uma boa solução para combater a pobreza e o atraso. Porém a pobreza de ideias do partido Novo logo veio à tona. Enquanto a The Economist, bíblia dos banqueiros, defende a legalização da maconha para reduzir o dano que a droga causa na sociedade e gerar óbvios resultados econômicos (ao invés de prejuízos) como na California ou Colorado, o Partido Novo se posiciona com “neutralidade” conveniente no assunto, deixando tudo como está. Esta é a cabeça “dinheirenta” de uma considerável parte do setor financeiro brasileiro, em que nada é mais importante que o lucro e que direitos humanos são assuntos de gente chata da Vila Madalena.

Nosso Ministro do Meio Ambiente é do Partido Novo, num governo que flerta com o fundamentalismo religioso e combate a ciência – com seu guru achando interessante o terra planismo. João permanece num absoluto silêncio como se não tivesse nada com isso. Pior, declarou recentemente que seu colega “mais acerta do que erra”. Essa é a postura que envergonha o setor financeiro, que era orgulho nacional, e hoje tem partes expressivas em silêncio cínico diante do que estamos vivendo, porque afinal o que importa é o lucro e nada mais. De maneira nenhuma estou falando que todos os membros do setor financeiro são assim. Não são, e é importante valorizar iniciativas legais como a do McDonalds. Mas é nítido e obvio os imensos laços que o setor financeiro tem com este governo e suas práticas. Vale tudo para combater o petismo, destruir um patrimônio da humanidade, matar, roubar e sufocar investigações. Corrupção ruim é a dos outros, a nossa tudo bem porque é em nome de um ideal maior.

Vamos pegar o touro pelos chifres, o que desmata a Amazônia é o lucro. Quem se preocupa com a Amazônia precisa focar em quem está ganhando (direta ou indiretamente) com a venda de soja e carnes baratas. Vale lembrar o quanto essa indústria está envolvida em corrupção, veja só a JBS e a cambada de deputados comprados como se fossem gados.

Na visão de João Amoêdo, cada membro do novo é livre, postura cínica de uma elite predatória que adora circular em festas como nobres praticantes de caridade. Acredito que a solução passa por incentivar posturas e empresas como o McDonalds – apesar de eu não ter elementos ainda para avaliar a consistência deste pacto. Eles não estão sozinhos: nos EUA, o Bank of the West do grupo BNP Paribas se comprometeu a não investir e lucrar com a produção irresponsável de oléo de Palma, Madeira, Carvão e Tabaco. Olha que idéia boa para os bancos brasileiros, muito mais impactante do que qualquer publicidade. No Brasil, empresas como Mercur, fabricantes de borracha tem programas inovadores que ganharam elogios até do “El Pais”. Jorge Hoelzel Neto, dono da Mercur, é daqueles empresários brasileiros que nos dão orgulho e provam que generalizações de classe só interessa aos destruidores. Por enquanto, João e seu partido, representam aqueles que fingem não ver e só pensam no lucro, de curto prazo, diga-se de passagem. Afinal, com o avanço das catástrofes climáticas promovidas pelo aquecimento global, fica a pergunta: será que João se importa com o ar que seus descendentes vão respirar no futuro? Sigo na torcida pela mudança de postura do Partido Novo, João e amplos setores financeiros brasileiros, pois acredito nos direitos humanos e na capacidade das pessoas evoluírem e reconhecerem seus erros.

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Falso profeta https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/05/16/falso-profeta/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/05/16/falso-profeta/#respond Thu, 16 May 2019 14:53:13 +0000 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/files/2019/05/PauloGuedesFolha-320x213.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=316 O que acontece quando um tiranossauro se veste de liberal.

O ministro da economia, Paulo Guedes, já deve ter percebido que não existe bom negócio com quem não é bom.  Como banqueiro de sucesso, sabe que papel aceita tudo e a realidade não autoriza desaforos.   O super-ministro infelizmente foi publicamente desautorizado, quando seu poste resolveu brincar de repetir o erro de interferir na política de preços dos combustíveis. Foi um erro básico — basta estudar história, o que não parece ser o forte do poste.  É isso que acontece quando um tiranossauro se transveste de liberal de ocasião.
A falta de estudos do poste que virou presidente, no vácuo de desonestos esquemas de fake news, será sempre constrangedora. Como se associar com um falsificador da história, que foi desmentido pela fundação israelense responsável pela preservação da memória dos judeus mortos no holocausto, com a óbvia confirmação de que nazismo é de ultradireita (e não de esquerda)? O desconhecimento é tão flagrante, que até o slogan do governo do poste foi emprestado de Hitler (quem estuda sabe). Como judeu, digo: o poste envergonha nosso país. Lembremos que na Alemanha dos anos 1930 um movimento anti-intelectual que parecia inofensivo foi usado contra a ciência para discutir fatos (e fatos não são discutíveis).

Como bom entendedor de economia, o ministro deve saber que tecnologia e educação são motores da inovação, evidente combustível do crescimento econômico de Israel, Estados Unidos, Coreia do Sul e Japão. Como justificar um quadro tão insignificante na gestão do MEC? Com certeza, deve saltar aos olhos dos seus analistas o montante de dinheiro escandaloso que não é tributado de algumas igrejas caça-níquel. Daqui a pouco, a melhor alternativa para ser empresário no Brasil será montar uma igreja e não uma empresa. Educação? Para quê?

Ministro, a sua situação é dificílima, eu sei. A reforma da previdência parece azedar porque, em vez do dialogo democrático, o seu poste preferiu o autoritarismo e o diversionismo. Quebrou o decoro ao postar vídeos eróticos e ainda pediu ajuda da população para entender um fetiche como o Golden Shower  – não seria mais fácil pesquisar no Google?  De fato, urinar na cabeça de alguém é inusitado, mas não mais inusitado do que adubar o Brasil com infinitas barbeiragens e mentiras.

Caro ministro: não conheço o senhor, mas nutro profundo respeito e acredito realmente em suas intenções de salvar nosso pais de uma sucessão de trapalhadas econômicas. Torço pelo seu sucesso, porque ele é nosso e sou patriota. É preciso, porém, perceber o que parece muito claro para quem está fora da ilha do governo. Quando o Museu de História Natural de Nova York rejeita o fóssil de um tiranossauro, que age em cima de mentiras constantes, tudo envolto em irrealidade, a realidade se impõe: as ideias não correspondem aos fatos e a piscina fica cheia, de muitos, mas muitos ratos. Talvez sua maior contribuição neste momento, ministro, seja acabar com o que senhor começou: endossar um poste sem qualificação, decoro ou até trajes para liderar um país. Errar é humano, insistir no erro é irracional.

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Trailer do ‘Abe’ Sundance 2019 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/01/19/trailer-do-abe-sundance-2019/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2019/01/19/trailer-do-abe-sundance-2019/#respond Sat, 19 Jan 2019 17:30:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=302 Um projeto que estou gestando há 13 anos, escrito por mim com os roteiristas palestinos Lameece Issaq e Jacob Kader, o filme conta a história de Abe (Noah Schnapp), 12 anos, que cozinha para unir a família metade de origem palestina e metade israelense.

Pelas ruas do Brooklyn, Abe conhece Chico Catuaba (Seu Jorge), um chefe brasileiro que mistura sabores do mundo todo em uma feira gastronômica de rua. Explorando a vida e Nova Iorque, escondido dos pais, Abe faz um pedido especial para Chico: quer trabalhar e aprender “fusion food”.

‘Abe’ estará em exibição no Festival Sundance 2019, do dia 26 a 31 de janeiro.

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Pando, mais antigo que as Bristlecones https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/pando-mais-antigo-que-as-bristlecones/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/10/19/pando-mais-antigo-que-as-bristlecones/#respond Fri, 19 Oct 2018 22:05:41 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=297 Na minha jornada atrás de árvores fascinantes nos Estados Unidos, eu acabei encontrando as Bristlecones, algumas das árvores mais velhas no mundo, chegando a 5.000 anos de idade. Mas ainda mais impressionante foi encontrar em seguida um ser vivo ainda mais velho, com quase 80.000 anos!

Continuamos a série “As árvores somos nozes” com o Pando, na Fishlake National Forest de Utah. Ele não é apenas uma árvore antiga, mas uma rede clonal de um único organismo vivo colossal que persistiu por milhares de anos. E ao estudar esse incrível ser vivo, muito pode ser aprendido sobre mudanças climáticas e aquecimento global.

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Do lado certo da história https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/10/16/do-lado-certo-da-historia/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/10/16/do-lado-certo-da-historia/#respond Tue, 16 Oct 2018 15:30:59 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=288 Vivemos uma época estranha, em que, de repente, os fatos não importam mais. Bobagens como dizer que o Nazismo era uma movimento de esquerda circulam na internet com supostas comprovações patéticas, como se a palavra social na sigla do partido alemão bastasse para desmentir fatos históricos. Por esta lógica, podemos afirmar que as socialites são socialistas? Ou ainda, grupos que pretendem combater a corrupção e votam em um candidato que já fez, em vídeo, apologia a sonegação e esteve nas listas da JBS (ainda por cima votou contra o Plano Real, a favor de um estado pesado e discursou a favor de grupos de extermínio).

O momento é desafiador porque o segundo turno colocou o Brasil para escolher entre candidaturas muito distintas (e que não podem ser igualadas), uma que representa a ascensão do autoritarismo, do ódio, da intolerância e da violência e outra, representante das idéias progressistas e justiça social, mas com um partido que coleciona uma série de erros que prefere negá-los e mostrar genuína superação.
Independente de boas intenções, a aventura das olimpíadas e da copa do mundo (em que um estádio bilionário até virou estacionamento), aliada a uma politica fiscal expansionista irresponsável com dezenas de escândalos bilionários de corrupção custou caro ao Brasil: um grave crise econômica que destruiu vidas e construiu um potente terreno de insanidade.

Os constantes acenos do PT à ditadura Venezuelana, campanhas eleitorais irresponsavelmente caras e imundas em corrupção (assim como vários outros partidos) e até campanhas difamatórias injustas visando destruir reputações para ganhar o poder, macularam a imagem do PT. Nunca é demais lembrar, PT recebeu um governo nos trilhos do Presidente Fernando Henrique Cardoso, chamou um tucano na época, Henrique Meirelles, para tocar a economia e expressou sua ingratidão repetindo a expressão “herança maldita” ao infinito, quando os fatos desmentem o óbvio. Pouco ao pouco, o PT abandonou a responsabilidade nas contas públicas e se lançou num descontrole de gastos populista, visando a perpetuação do poder custe o que custar. E quem ousasse criticar, recebia a ira de blogs e veículos alinhados ao governo, muitas vezes com mentiras. O nós contra eles foi usado a exaustão como mecanismo de conquista de poder.

Criticar erros é dever democrático, não é ataque. E em tempos de simplificação de tudo, prefiro enxergar mais de uma verdade.

A realidade é complexa: Lula quando presidente representou o avanço da justiça social, aumentando o acesso dos negros e pobres na universidade, combateu a fome, venceu o medo. Fernando Haddad quando prefeito, deixou as contas em ordem e de forma responsável, mudou a lógica de transporte urbano, com corredores para que a periferia viesse trabalhar em jornadas menos infinitas e transformou a bicicleta não só numa nova alternativa na megalópole São Paulo, como também num lucrativo novo mercado.

O momento que vivemos é histórico, contudo, é quase binário, de um lado representante do autoritarismo e da intolerância que disse que relações de negros e brancos são promiscuidade, que diz que os africanos vieram ao Brasil por livre e espontânea vontade, com aliados suspeitos de envolvimento em milícias, que tira dos profissionais de segurança o monopólio das armas, ou ainda, que em nome do cidadão de bem e do combate a corrupção, foge de respostas de acusações fartas de falta de liturgia para o cargo postulante: de roubo de cofre a funcionária fantasma, uso ilegítimo de auxilio moradia, apologia ao estupro e aliados patéticos: do aero trem a um general amalucado que acha que famílias criadas por mulheres são fabricas de desajustados, ou que, seu netinho é mais bonitinho porque representa o branqueamento da raça (segundo ele foi tudo uma brincadeira, olha só).

Nunca poupei criticas e nem elogios a diversos políticos, sempre apoiando movimentos alinhados com causas e nunca participando da disputa de poder. Minhas causas são o acesso à educação de qualidade para todos, desenvolvimento econômico, fomento ao empreendedorismo, justiça social e direitos humanos, o que significa regulamentação das drogas como forma de diminuir o dano que a droga causa na sociedade e pode causar nas pessoas, defesa incondicional dos direitos das mulheres, dos LGBTQs, dos negros, dos indígenas, do meio ambiente.

A hora não é fácil e exige compromisso histórico. Minha posição é o compromisso com a democracia e as causas dos direitos humanos, que ganharam magnitude com a declaração universal dos direitos humanos, escrita em co autoria por Hessel, sobrevivente da barbárie nazista.

Diante disso, deixo claro que mesmo com fartas criticas ao PT, meu voto é CONTRA Bolsonaro, CONTRA a barbárie, CONTRA o autoritarismo cujos efeitos multiplicadores vão contaminar nossa sociedade que já esta na UTI da violência, CONTRA a devastação da floresta amazônica e a favor de um chance a Fernando Haddad e, dentro de uma frente ampla pela democracia e crítica, uma segunda chance ao PT. Sou contra ataques ao estado laico e contra o envolvimento de igrejas milionárias na eleição (mas de maneira nenhuma contra as igrejas e a favor da liberdade religiosa).

Contudo, deixo claro o recado ao PT para que deixe de lado os fatos alternativos e tenha coragem e humildade de assumir sua coleção de erros, para com isso, quem sabe, liderar nosso país num pacto democrático, responsável economicamente e, acima de tudo, se reinventar e aprimorar.

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A história do cientista que matou acidentalmente o ser vivo mais velho do planeta https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/09/28/a-historia-do-cientista-que-matou-acidentalmente-o-ser-vivo-mais-velho-do-planeta/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/09/28/a-historia-do-cientista-que-matou-acidentalmente-o-ser-vivo-mais-velho-do-planeta/#respond Fri, 28 Sep 2018 22:18:04 +0000 https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/files/2018/09/Captura-de-Tela-2018-09-28-às-20.20.49-320x213.png https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=281 O que você faria se tivesse matado sem querer o ser vivo mais antigo do planeta? Esse foi o fardo que o professor americano de geografia Donald R. Currey carregou pelo resto de sua vida após um acidente, em 1964, quando ainda era um aluno.

Ao estudar os pinheiros bristlecones, no parque nacional de Great Basin, Nevada, acabou cometendo um erro histórico e, pior, com a permissão do Serviço Florestal.

 

Esse acontecimento gerou grande controvérsia quando veio a público e se prolonga até hoje.  Mas também rendeu aprendizados e conquistas.

 

A árvore tinha o nome de Prometheus, herói da mitologia grega que contrariou Zeus, roubou o fogo dos deuses e pagou caro assim como a personagem desse vídeo. Confira a história completa no vídeo acima, com fotos de época, uma conversa com um dos alunos dele, uma entrevista com uma guarda florestal e um raro áudio do Prof, Currey.
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Bristlecones: os seres mais antigos do planeta https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/09/21/bristlecones-os-seres-mais-antigos-do-planeta/ https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/2018/09/21/bristlecones-os-seres-mais-antigos-do-planeta/#respond Fri, 21 Sep 2018 04:04:39 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://grosteinandrade.blogfolha.uol.com.br/?p=274  Sou um daqueles malucos que gostam de abraçar árvore para pegar boas energias, apesar de ser meio ateu, meio agnóstico. Depois de uma filmagem muito exaustiva, entrei nesta busca de encontrar a árvore mais antiga do planeta. Foi aí que eu descobri as Bristlecones, que não só são as árvores mais antigas do mundo, mas os seres vivos mais antigos da Terra.

Geralmente as pessoas pensam que as árvores mais antigas são as Sequoias devido ao seu tamanho, mas as Bristlecones tem outra estratégia de sobrevivência. Crescem meio milímetro por ano e em terreno difícil, por isso acabam parecendo Bonsais gigantes.

Para filmar e fotografar esta aventura, fui para a Floresta de Inyo, na California. O Parque estava fechado para o inverno (na época do registro, no início deste ano).  Um detalhe importante para proteger a árvore, os guardas florestais americanos não identificam onde ela está exatamente. É preciso se aventurar numa trilha de 5 horas numa montanha de 11 mil pés acima do nível do ar coberta de neve e buscar onde estaria a árvore secreta. Foi uma grande aventura, em especial porque não havia ninguém no parque, o sol foi se pondo e eu pensei por alguns momentos que ia congelar lá perdido no escuro.

Ironia do destino, depois desta expedição dirigi horas até Los Angeles, pedi uma pizza e o garçom era brasileiro, que disse que sabia exatamente onde estava a árvore, porque morou lá por anos e a família de um guarda florestal acabou revelando o mistério. Para manter a tradição, vou guardar o possível segredo para proteger a árvore.

Continuando a nossa série “As Árvores Somos Nozes”, que discute a relação entre civilização e natureza, o vídeo de hoje é sobre o poder de resiliência das árvores Bristlecones.

As Bristlecones têm em média 5.000 anos de idade e são sobreviventes de situações climáticas extremas, sendo assim seres vivos extremamente resilientes. Mas, recentemente, essa resiliência vem apresentando aos poucos os seus limites. Qual o nosso papel nisso?

Muito em breve lançaremos os próximos episódios da série, onde vamos contar a história do cientista que acidentalmente matou o que era considerada a árvore e ser vivo mais velho do planeta em 1964. Foi considerado um dos grandes erros da humanidade.  E se você mudar a definição de ser vivo mais antigo do mundo para ser clonal – aqueles que sobrevivem fazendo clones, em breve teremos um episódio sobre Pando – a floresta mais antiga do planeta, com 80 mil anos. A floresta é formada por árvores Aspen, que se multiplicam e se reproduzem pelas raízes que são todas conectadas e vão clonando as árvores. 

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